Graça, gratidão e um até logo
A falta de sentido foi totalmente subjugada pela não necessidade de haver um sentido, porque havia em todos os lugares a consciência da soberania do autor e consumador de toda a vida. Sinceramente, não encontrei outras palavras para iniciar esse texto que veio sendo gerado dentro de mim desde o início do dia de hoje, no culto de despedida do Pastor Leonel, e todas as experiências com Deus e tudo que pude aprender hoje que ouso dizer ser das mais significativas e grandiosas dos últimos anos de caminhada.
“No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo. Serafins estavam por cima dele; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória. — Isaías 6:1–3”
Como foi dito na celebração em homenagem ao Pr. Leonel e em ações de graças ao Pai, Isaías vivia num momento de completa confusão. Não fazia sentido o que estava acontecendo na nação, seu líder temente a Deus, valoroso, querido, havia falecido. “Porquês” permeavam corações, assim como nesses dias permeavam os nossos “talvez e serás” em tantas situações e pensamentos. Mas houve o momento em que Isaías contemplou o Senhor em seu trono. E esse vislumbre o levou a uma realidade que estava além da sua nação e entendimento, esse vislumbre nos levou ali a entender que, não era fora de tempo e nem fora de sua soberania, era como havia de ser, a premiação de um servo que foi recebido com a coroa da vida, um campeão.
Então fui impactado como nunca pelo escândalo da graça. Da graça e da paixão pelo Salvador, sua Verdade, Vida e seu Caminho. Ali pude ver reverberar uma entrega de vida em paixão a Verdade de Jesus. Entrega essa que fez seu ministério e seu nome se misturarem, ao ponto que era impossível fazer alguma referência ao jovem pastor e não (pelo menos) se lembrar dos seus frutos. Acredito que essa entrega tenha causado um terremoto em minhas convicções e com certeza, me fez ver e rever minha vida como cristão, minha entrega e principalmente que não somos desse mundo, mas viemos para passar por aqui como embaixadores do Seu Reino. Como está escrito “Se o viver é Cristo, então o morrer é lucro”. E esse morrer, que na verdade é um saudoso “até logo”, na certeza que nos encontraremos diante desse mesmo trono.
A atmosfera da celebração era algo totalmente diferente, pois, havendo a tristeza, ela era confortavelmente amparada pela palpável presença daquele que cunhou, usou e chamou o querido pastor. O peso da perda era seguido de um sopro, uma brisa que soava como a chuva que caia do lado de fora, que nos lembrava que, na verdade, a eternidade havia apenas começado e seu testemunho estava alcançando vidas e mais vidas, unindo o corpo de Cristo num só clamor e numa única língua. Servo até o fim. E o fim, não era/é o fim. Na verdade, nós que ainda não começamos a real jornada para a qual fomos criados, que é a eternidade diante do glorioso trono. Isso me encheu de esperança, de reverência, de amor e de desejo por esse Deus meu/nosso. Ali vi fazer sentido como nunca a canção dos Arrais que diz: “que o meu nome morra com meu corpo e que o de Cristo permaneça em tudo”. Esse é o chamado da nossa existência, ainda que sejamos honrados (e me senti privilegiado e honrado em poder honrar e homenagear este grande homem, seja nestes textos ou principalmente estando lá), essa honra transforma-se em testemunho que simplesmente frutifica, seja em velhos cristãos, novos, perdidos, achados.
As coisas do Eterno não precisam fazer sentido nesse mundo, porque Ele e nós, não somos daqui, não fomos chamados para permanecer aqui, mas para instalar Seu Reino e manifestar a sua glória.
Por isso a complexidade de conseguir resumir e simplificar a profundidade do impacto na minha vida que esse dia teve. Dependência, honra, perseverança, porque Ele é quem merece toda a nossa dedicação, dele vem a nossa salvação e redenção e pra Ele é o propósito da nossa vida que anda na contramão desse mundo caído. Essa entrega me constrangeu, essa honra me mostrou o quanto devemos ser como Jesus coloca: “E, qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo; Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos. — Mateus 20:27,28”.
Vale a pena ser o último, o servo, o menor. Esse mundo não pode compreender algo que confesso até então não ter concebido com clareza e ainda não ver em sua complexidade, mas mais um pouco que é essa grande honraria de poder apresentar-se diante do Rei, preparado, havendo cumprido a carreira, combatido o bom combate e guardado a fé, sendo “condecorado” com essa coroa da vida. Cara, o que são todas as coisas que podemos conquistar nessa vida que é como a neblina que aparece e se dissipa, perto do privilégio de ser exatamente aquilo que Ele desejou? Fazer valer a pena o sacrifício de Jesus? Entregar a vida para que Ele viva em nós já que a que Ele escolheu ter nessa terra foi justamente para entregar por nós? Digo que não há legado possível maior que esse. Conhecer a Jesus e ser achado nele, tendo a honra de sua memória, seja qual for o tempo, ser impactante e gerar fruto mesmo depois de haver subido para estar com ele, tal qual Enoque foi. Uma vida de propósitos, ou propósitos de uma vida. Foi dar prioridade para quem sempre deve ser a prioridade e ser o homem que deveria ser.
Honrá-lo naqueles momentos foi um ato de gratidão, a sua entrega e seu caráter. Um ato de adoração a Deus, que se fez manifesto em seu amor e fidelidade ali, em consolo e em poder, nos fazendo sentir um pedacinho da eternidade que há de vir, na partida que vislumbrou o norte, o lugar que haveremos de estar, todos juntos outra vez.
Obrigado pelo testemunho Pastor Leonel, pela entrega de vida, em vida e até o fim. Toda honra, toda glória e toda vida pertencem ao nosso Deus e vem do seu eterno Reino.
Ainda estou encontrando tantas coisas que Deus está falando comigo sobre esse dia, que como na história de Lázaro, tenho certeza que dos lamentos fúnebres, foram ressuscitados muitos corações e vidas cristãs que estavam mortas no marasmo e na mornidão. Que eu possa aprender e ser, pelo menos um reflexo do discípulo de Cristo que esse homem foi. Que o que nós vivamos não sejam apenas memórias ou palavras de nossas almas. Mas que seja o empoderamento daquele que nos chamou para expandir o seu Reino por onde nos chamar, sem titubear, sem olhar pra trás ou para os lados.
O Senhor que inventou o tempo, a partida e o destino, estará lá.